Brasil precisa investir pesado para ter carro elétrico

Consultoria aponta que para suportar a demanda por energia seriam necessárias três usinas de Itaipú e cinco de Belo Monte


A questão do carro elétrico está se tornando um assunto cada vez mais inevitável. Muitos especialistas e ambientalistas colocam esse tipo de tecnologia como uma das formas de combater as mudanças climáticas geradas pelo aumento desenfreado das emissões de gases de efeitos estufa no planeta. Porém, muitas questões ainda precisam ser resolvidas, como o custo e peso das baterias utlizadas nos motores desses veículos, políticas de incentivos à essa tecnologia, ou mesmo, uma mudança do cenário econômico de alguns países, como o Brasil, que nos últimos anos vem mirando seu foco nos combustíveis derivados do petróleo e no etanol.

Outra questão que por aqui deve ser esclarecida, antes de aumentar de forma efetiva os investimentos nos carros elétricos, é a capacidade energética do país. Muito se discute se a estrutura existente nos dias de hoje pode suportar uma mudança de realidade, com a substituição da atual frota movida à combustão por uma leva de veículos 100% não poluentes.

Nesta segunda feira (5), a consultoria Andrade & Canellas, especializada nas questões energéticas, divulgou um estudo que trás um pouco do atual cenário brasileiro com relação a esse assunto. De acordo com o estudo, de forma hipotética, caso toda a frota de veículos brasileiros fosse substituída por modelos movidos a energia elétrica, exigiria que o parque gerador brasileiro produzisse mais 190.108 GWh por ano. Ou seja, para que o sistema elétrico nacional gerasse energia suficiente para abastecer toda a frota atual de veículos leves movidos a gasolina ou etanol, seria preciso construir cinco usinas hidrelétricas como a de Belo Monte (ainda em construção) ou três usinas como a de Itaipu.


Para ter uma ideia da demanda que tal ação criaria, em 2011 a usina de Itaipu produziu cerca de 71.744 GWh, ou seja, pouco mais de um terço do total que seria gasto pelos carros elétricos. A usina de Belo Monte, quando estiver operando plenamente, deve gerar por volta de 39.360 GWh por ano, valor cinco vezes menor do que a nova demanda. “Em princípio, os veículos elétricos são opções interessantes para solucionar parte dos problemas ambientais. Mas é preciso atenção porque a eletricidade para abastecê-los terá de ser produzida de alguma forma, o que exigirá investimentos significativos no parque gerador e na infraestrutura de transmissão e distribuição”, afirma a gerente do Núcleo de Energia Térmica e Fontes Alternativas da Andrade & Canellas, Monica Rodrigues de Souza.

A especialista lembra que, além dos impactos ambientais de cada uma das fontes de energia – sejam elas fósseis ou renováveis –, é preciso considerar algumas questões econômicas. “O Brasil deve ampliar de maneira muito consistente a produção de petróleo nos próximos anos. Diante desse fato e da disponibilidade de etanol a custo competitivo no país, a questão do carro elétrico precisa ser avaliada de maneira ampla, não apenas como uma panaceia que resolverá todo o problema da mudança climática”, conclui Monica.

Uma possível solução
Caso o Brasil resolva adotar um sistema para a implantação do carro elétrico nos próximos anos, uma solução viável é a adoção de políticas que regulamentem o abastecimento das unidades durante as madrugadas. De acordo com o presidente do conselho diretor da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), Jayme Buarque de Hollanda, essa seria uma das saídas para viabilizar a implantação desta tecnologia por aqui. “Esta é uma das maiores virtude desse tipo de veículo. Ele poderia otimizar o investimento e contribuir para o desenvolvimento do setor elétrico no Brasil”,  diz.

Hollanda alerta que o grande problema ainda é o alta carga tributaria e falta de incentivos por parte do poder público. “Hoje, esse tipo de veículo  tem sua comercialização inviabilizada por causa do imposto elevado e pelo alto custo de produção. O consumo de energia não é maior que o de um aparelho de ar-condicionado”, afirma o executivo.



Por: Leonardo Faria
Fonte: Carsale

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