Austeridade trava procura de veículos verdes

Apesar das convicções ambientais de mutos empresários, a adesão às tecnologias mais amigas do ambiente sofreu um duro revés com a agudização da crise, já que a contenção de custos obrigou muitas empresas a abdicar do aluguer dos chamados veículos verdes, procurando opções mais baratas para renovar as suas frotas

"Até Junho deste ano, foram vendidos 1.041 veículos movidos a combustíveis alternativos, dos quais 543 híbridos, 454 a GPL e 44 eléctricos a 100%, número abaixo dos registados em anos anteriores. No ano passado, foram vendidos 1.952 automóveis "verdes" e em 2010, 2.434 unidades". Os números são relatados ao OJE por Guillaume de Léobardy, administrador delegado da ALD Automotive, para constatar o crescente desinteresse das empresas pelos chamados veículos verdes, potencialmente mais ecológicos, sejam eles exclusivamente elétricos, a gás ou combinando a vertente elétrica com o consumo de combustível fóssil.

Um desinteresse que não está, de forma alguma, relacionado com qualquer desilusão sentida por que já optava por estes veículos, nem tão pouco relacionada com qualquer diluição da consciência ecológica dos empresários. Em tempo de austeridade, o custo acrescido da integração de veículos verdes nas frotas das empresas está agora a ser elimnado das contas anuais que todos os dias são obrigatoriamente ajustadas ao novo contexto sócioeconómico do país. "Infelizmente, hoje praticamente não há preferência por este tipo de veículos, nem mesmo pelos eléctricos, híbridos ou GPL, que têm registado acentuadas quedas, apesar da aposta das marcas na diversificação da sua oferta", confirma Guillaume de Léobardy.

No entanto, também não é verdade que os chamados veículos verdes tenham sido totalmente eliminados das frotas empresariais. Mas tornaram-se, hoje, numa compra mais limitada a um perfil muito restrito de consumidores, sejam eles particulares ou empresas de pequena, média ou grande dimensão. "Num cenário de forte contração económica, caracterizado pela redução dos investimentos das empresas e pela perda de poder de compra dos portugueses, este tipo de veículos, substancialmente mais caros, é opção apenas de compradores com altos rendimentos ou empresas que põem a responsabilidade ambiental no coração dos seus valores", afirma o administrador delegado da ALD Automotive.

Elétricos com fraca adesão
Em 2011, 64% dos gestores das grandes empresas acreditavam no potencial dos veículos elétricos em Portugal, de acordo com o estudo Corporate Vehicle Observatory, promovido pela Arval. Mas em 2012, esse índice caiu para 33%, numa clara demonstração de que o assunto "veículos elétricos" perdera fôlego dentro das empresas. E o mesmo fenómeno ocorre igualmente nas empresas de menor dimensão. Em 2011, 47% ds gestores de médias empresas em Portugal acreditava no potencial dos veículos elétricos. Em 2012, apenas 16% dos gestores dessas empresas mantinha a mesma opinião. Já nas pequenas e micro empresas, a defesa veemente dos veículos verdes era protagonizada por cerca de 40% dos gestores e em 2012, pouco mais de 10% dos gestores o faziam.

E este cenário é claramente português, já que o estudo compara a mesma atitude dos empresários europeus, onde embora se confirme a mesma tendência descrente no potencial dos veículos verdes, a quebra de índices não é, de forma alguma, tão evidenciada. Nas grandes empresas, por exemplo, os veículos verdes eram defendidos por 40% dos gestores e em 2012 a mesma opinião era mantida por 36% dos gestores. "As atuais circunstâncias económicas puseram um travão à penetração do veículo elétrico nas empresas", constata António Oliveira Martins, diretor geral da LeasePlan Portugal. "Nesta fase de grandes dificuldades e tendo em conta o elevado preço destes veículos, os empresários apenas optaram por esta tecnologia mediante comprovação de que esta teria um impacto positivo na eficiência da performance da sua empresa", assume Oliveira Martins, em declarações ao OJE, lembrando também que estando ainda numa fase muito inicial, a reduzida escala que caracteriza esta inovação e as incertezas que a rodeiam impedem que estes veículos sejam, para já, economicamente atrativos para as empresas".

A mesma convicção é partilhada pela Locarent, que, ainda assim, diz estar disposta a continar a promover sempre que possível a opção por viaturas que utilizem energias renováveis. Mas ao OJE, José António Português e Maurício Marques, da Direção de Marketing da gestora, confirmam que qualquer tecnologia a despontar acarreta assumpção de riscos e as consequências são notórias. "Com a tendência de redução / anulação de incentivos fiscais que se perspetivam ao nível das viaturas eléctricas, combinado com os entraves funcionais, técnicos e logísticos que tardam a serem ultrapassados - nomeadamente, no que respeita à autonomia e PVP das viaturas em questão - esta solução tende a reunir menos aderentes no mercado em Portugal".

Fonte: OJE [Portugal]

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