Como mudar o paradigma do carro elétrico?

O carro elétrico vai pegar? Por que ainda não pegou? São perguntas que muitos se fazem. 

O carro elétrico pode não ser a única solução viável para a mobilidade sustentável, mas será seguramente uma delas. E não adianta os críticos apontarem o insucesso da Fisker Automotive ou mesmo da Coda para dizer que os veículos elétricos não vão pegar, pois isso não é suficiente. Dificuldades ocorrem em qualquer setor, aliás na própria indústria automobilísticas, algumas marcas foram negociadas no últimos anos para não fecharem as portas.

Também, dizer que o consumidor não está disposto a trocar o carro a combustão interna por um elétrico, não é o bastante para provar o insucesso do VE. Naturalmente, caso alguém pergunte ao consumidor se ele deseja ou não continuar a dirigir carros movidos a combustível fóssil, é provável que ele responda querer continuar com os modelos atuais. Mas, será mesmo que o consumidor sabe o que quer? Se soubesse, ninguém investiria fortunas em pesquisas, bastava perguntar para ele e estaria tudo resolvido.

Será que quando a indústria surge com um novo produto foi o consumidor que pediu por ele? Na maioria das vezes não, foi o empresário que teve visão ou apostou em projeto que alguém lhe apresentou. Logo, essa história de dizer que na pesquisa X ou Y o cliente disse que prefere os carros equipados com motor de combustão interna, pode não significar muita coisa. Ora, a pessoa vem a mais de cem anos conduzindo o mesmo tipo de veículo, como esperar que do dia para a noite ela diga querer outra coisa? Além disso, o ser humano não é muito favorável a mudanças.

Precisamos levar em conta que estamos habitando um mundo muito diferente daquele habitado pelos nossos pais e avós. O mundo viveu até 1960 no lombo de burros, e nos últimos cinquenta anos evoluiu científica e tecnologicamente, mais do que havia evoluído nos primeiros 1960 anos.

O mundo que vivemos conta com quase 7 bilhões de pessoas e por volta de 2030, serão em torno de 9 bilhões. Existe globalmente quase um bilhão de autoveículos nas estradas. Nos próximos dez ou quinze anos serão em torno de 1,2 bilhões, o suficiente para dar mais de 120 voltas ao redor da terra, se colocados enfileirados.

Tudo isso gerando muita poluição. A frota mundial emite em torno de 2,8 bilhões de toneladas de CO2. Carros e caminhões a combustível fóssil somam cerca de 25% das emissões de CO2 do mundo. Temos que resolver este problema com foco e esforço direcionado, se desejarmos entregar para os nossos herdeiros o planeta em iguais ou melhores condições do que o recebemos. Porém, estamos jogando o lixo que produzimos (e não é pouco) no quintal de nossa casa, e achamos isso normal.

É neste contexto também, que temos que refletir o veículo elétrico e híbridos. Só a Toyota já vendeu mais de 5 milhões de híbridos e a Nissan mais de 50 mil elétricos. Em pouco tempo eles já representam em torno de 3% de penetração de mercado e cresce um pouco mais todos os meses.

Além disso, os mercados de carros que mais crescem atualmente, são os BRIC’s, onde os estímulos aos VEs estão em fase incipiente. A China, maior mercado de carros do mundo, está adotando medidas para alcançar a meta de ter 500 mil carros elétricos e híbridos nas ruas até 2015 e 2 milhões até 2020. A Índia também já tem políticas públicas de VE’s e montadoras, governos e empresas fornecedoras de energia estão trabalhando para ampliar a penetração dos VEs no país.

O Brasil ainda não regulamentou o veículo elétrico, mas há iniciativas de governos estaduais, montadoras e concessionárias de energia elétricas, como é o caso dos taxis em São Paulo em parceria a Nissan, no Rio de Janeiro com a Mitsubishi e Nissan, ônibus no Paraná com a Volvo entre outas iniciativas. Há cinco projetos em tramitação no legislativo, e não demora muito o Brasil estará com políticas públicas definidas e incentivando a produção de VE.

Em sintonia com a expansão global das ações de governo, a tecnologia do veículo elétrico está se desenvolvendo rapidamente. O carro da Tesla, por exemplo, tem autonomia de 300 quilômetros e a bateria do automóvel pode ser parcialmente carregada em 15 minutos. As ações da empresa na bolsa de valores estão em alta e ela já declarou lucro no primeiro trimestre de 2013.

Pode não ser o ideal, pois o carro da Tesla ainda é muito caro, mas não há como negar que é uma grande evolução se comparado com os primeiros modelos elétricos deste século. A questão é saber quanto tempo se leva para mudar um paradigma de mais de 100 anos.

A indústria do veículo elétrico precisa investir mais, a população ser melhor esclarecida e o governo apoiar (ou continuar apoiando) de forma consistente, pois só assim a mobilidade elétrica ganhará escala. Aliás, não parece inteligente ou razoável negar uma solução de baixo custo de operação e manutenção, energeticamente mais eficiente, que reduz enormemente a poluição do ar e que é tecnologicamente viável, não é mesmo?

Pense nisso e ótimo dia.

Evaldo Costa
Escritor, conferencista e Diretor do Instituto das Concessionárias do Brasil
Blog: www.carroeletriconews.blogspot.com
Site: www.icbr.com.br
E-mail: evaldocosta@evaldocosta.com
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Um comentário:

  1. Sou admirador de todo tipo de empreendimento que leve as pessoas a respeitarem o meio ambiente e o carro elétrico é um deles o Brasil tem mais do que condições para isto.

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