Até que ponto o veículo elétrico poderá afetar os negócios da indústria automobilística?

Ainda que não seja muito perceptível, a introdução em massa dos veículos elétricos e híbridos plug-in tem grande potencial de interferir e mudar, pela primeira vez em mais de um século de história, o modelo de negócio da indústria automobilística global. Há, pelo menos, dois motivos aparentes para tal hipótese.

A primeira diz respeito a forma como a indústria comercializa os veículos. O modelo tradicional teve início na primeira década do século XX, com a produção em massa dos automóveis. Desde então, a indústria recorre a rede de distribuição para fazer os veículo chegarem ao consumidor final.

Ocorre que a Tesla, montadora norte-americana de veículos elétricos, vem questionando este modelo. Para ela os veículos elétricos podem ser comercializados sem a necessidade de rede de distribuição na forma que a conhecemos. Para a Tesla, o ideal seria comercializa-los em lojas próprias, recorrendo a mecanismos online e, também, por sistema adotado por grandes cadeias, a exemplo da Apple.

No entanto, essa não deve ser a mudança mais significativa. O que desponta com potencial de causar maior impacto no modelo de negócio da indústria, é a aproximação natural entre as concessionárias de energia elétrica e as montadoras. As baterias dos carros elétricos podem ser extremamente importantes para as utilities. Já a infraestrutura de carregamento, bem como as informações, sobre o veículo e seu usuário, que podem ser capturadas a cada conexão para o carregamento das baterias, são de grande interesse das montadoras.

Pesquisas revelam que nos Estados Unidos o carro fica mais de 90% do tempo parado na garage da casa ou em estacionamentos, enquanto o seu proprietário trabalha ou repousa. Ora, utilizar as baterias dos veículos elétricos como back up, pode ser uma solução interessante para as utilities e os governos, que têm o enorme desafio de manter fornecimento regular e crescente de eletricidade.

O Modelo de negócio conhecido como Vehicle-To-Grid V2G esta começando a surgir em todo o mundo. Atualmente, os Estados Unidos testa o sistema em que os VEs e híbridos plug-in se comunicam com a rede de energia para vender serviços de energia elétrica. Neste caso, o proprietário do veículo será remunerado pelos serviços prestados, e as montadoras, também, terão a sua parcela de ganho, pois no mundo dos negócios todos precisam lucrar.

A Universidade de Delaware, nos Estados Unidos, a Pacific Gas and Electric Company, Xcel Energy e a Universidade de Warwick no Reino Unido trabalham para o aprimoramento do sistema. As previsões revelam que os veículos elétricos de propriedade individual serão capazes de oferecer este tipo de serviço já na segunda metade desta década.

Neste contexto, um recente relatório da Navigant Research, evidencia que provavelmente mais de 250 mil VEs estarão habilitados globalmente para utilizar o sistema V2G entre 2013-2022, auxiliando às concessionárias de energia elétrica na gestão dos pico de demanda. Como o assunto é de interesses publico, os governantes tanto da América do Norte como em parte da Europa e Ásia, estão apoiando a medida. Pelo que tudo indica, não demora para a maioria dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, apoiar a iniciativa.

Na tentativa de maximizar os benefícios do sistema V2G, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, segundo relatório da Navigant Research, anunciou investimento em torno de US$20 milhões a fim de instalar 500 pontos V2G para VEs e híbridos plug-in em bases militares no país, até o final de 2014.

O fato é que cedo ou tarde tudo muda. Fernando Pessoa costumava dizer: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”

Pense nisso e ótima semana,

Evaldo Costa
Escritor, conferencista e Diretor do Instituto das Concessionárias do Brasil
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Fonte: Cross Brasil

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