Mundo tem meta para o fim do carro a combustão; Brasil, não


Países como França e Reino Unido vão parar de produzir e importar já a partir de 2025

A frota de “carros verdes”, como são chamados os veículos elétricos e híbridos, no Brasil, é 20 vezes menor do que a média mundial. No planeta, para cada 500 veículos com motor a gasolina ou diesel, roda um elétrico. No país, essa proporção é de um automóvel verde para cada 10 mil com motor a combustão.

Os números mostram como a tendência de substituição do motor movido a combustíveis fósseis pelo elétrico ainda está distante no Brasil. Na Europa, a situação é diferente. Países como Alemanha, França, Reino Unido e Noruega já estudam parar de produzir e importar veículos convencionais entre 2025 e 2040. “No Brasil, estamos, no mínimo, cinco anos atrasados em relação ao mundo”, afirma o diretor do núcleo de pesquisas da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), Ricardo Takahira.

“Existe um número mágico no país. Segundo ele, um modelo precisa vender 50 mil unidades por ano para se tornar viável economicamente para as montadoras”, explica Takahira. Desde a entrada dos carros elétricos, em 2006, foram comercializados no Brasil, até julho deste ano, pouco mais de 5.000 veículos com motor elétrico ou híbrido, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

A procura pelo carro elétrico, no entanto, tem aumentado. Se no ano passado foram vendidos no Brasil 1.091 veículos híbridos ou elétricos, entre janeiro e julho deste ano já foram emplacadas 1.452 unidades, segundo a Anfavea.

Em fevereiro deste ano, o engenheiro Rogério Bueno Galvão, 53, adquiriu um BMW i3, um modelo 100% elétrico, e afirma que não pretende voltar a ter um carro com motor a combustão.

“Tenho uma autonomia que varia de 250 a 270 km por carga, o que levo de dois a três dias para gastar. Por isso, faço a recarga duas vezes por semana”, conta. Essa autonomia, porém, considera um tanque de 9 litros de gasolina que alimenta um gerador responsável por 100 km desse total.

Economia.
O engenheiro destaca a economia no longo prazo, já que gasta menos de R$ 10 com energia para rodar 100 km. “Pelos meus cálculos, o carro elétrico me garante uma economia de R$ 10 mil por ano em combustível, manutenção, seguro e IPVA”, diz. O modelo, porém, ainda não é uma boa opção para viagens. “No Brasil, não existe infraestrutura que permita viagem. É uma opção de mobilidade urbana”, avalia.

Quanto à bateria, Galvão considera a garantia de oito anos fornecida pela BMW positiva. Já Takahira acredita que o ideal seria garantir a performance da bateria por pelo menos dez anos para competir com os modelos convencionais.

A recarga também é um desafio. Nos modelos vendidos no Brasil, é necessário oito horas para fazer uma carga completa. Fabricantes como Tesla, Porshe, GM e a própria BMW já divulgaram estudos para reduzir esse tempo. A Tesla tem um projeto para baterias que se carregam em até uma hora.

Tesla.
Foram entregues em julho, nos EUA, as 30 primeiras unidades do carro elétrico popular da Tesla, o modelo 3, com preço inicial de US$ 35 mil. A empresa promete entregar mais cem veículos em agosto e chegar 1,6 milhão em 2023.

Mercado do petróleo será pouco afetado.
O investimento em carros elétricos não afetará o mercado do petróleo, diz o coordenador do MBA em gestão estratégica de empresas da cadeia automotiva da FGV-Rio, Antônio Jorge Martins. “O petróleo está em 90% da matriz energética mundial. Não vai afetar significativamente”, diz.

Para ele, porém, o carro elétrico é um caminho sem volta. “Até a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) prevê que, em 2040, já serão 250 milhões de carros elétricos no mundo”, conta.

Preços ainda são cerca de 20% maiores
Para o engenheiro Rogério Galvão, a isenção do Imposto de Importação no caso dos carros elétricos, definido em 2016, foi um fator decisivo quando adquiriu seu veículo BMW i3. A nova alíquota, que antes era de 35%, diminuiu o preço, mas ele continua salgado no país. O BMW i3, por exemplo está em torno de R$ 170 mil.

Essa realidade é mundial. “Um carro elétrico em qualquer país ainda é cerca de 20% mais caro do que um modelo convencional”, conta o coordenador brasileiro do programa Veículo Elétrico de Itaipu, Celso Novais.

“Nos últimos seis anos, o valor da bateria, item mais caro do carro elétrico, caiu 80%. Isso ajudou o preço do veículo reduzir em 40%”, diz o diretor do núcleo de pesquisas da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), Ricardo Takahira.

Por: Ludmila Pizarro
Fonte: O Tempo

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